5ª Narrativa
Fogo na derrubada
Uma atitude que foi sem dúvida um testemunho do progresso de Cristinópolis foi o preparativo das terras para cultura que os proprietários faziam a cada ano derrubando matas e queimando-as. Num período aproximadamente de cinco ou seis anos da abertura de Cristinópolis essa atividade foi muito intensa. No período das secas, estio ou verão para alguns, o céu cobria-se de fumaça e, olhando ao longe se via os focos de incêndio, era o camponês preparando as terras para suas lavouras. Essa narrativa também ilustra essas quatro casas pioneiras: a casa do Zé de Morais (Zé de Modo), a casa do Zé Filipe, a casa do Zé Laurindo e a casa do Benvindo. Foi num domingo da primeira quinzena de outubro de um mil e novecentos e sessenta e sete o dia exato eu não me lembro, mas foi em outubro. O meu pai (Augusto) já estava com a roçada pronta só esperando um dia favorável para queimá-la. Deveria ser antes que começasse a chuvarada, pois Cristinópolis era sertão e nas florestas chove muito. O pai terminou a derrubada em fins de agosto, mas por motivo de segurança e para aproveitar bem o serviço da queimada estava então esperando um dia bem apropriado. Os aceres estavam prontos, os vizinhos já estavam conscientes que, por sinal, o Nestor também tinha uma roçada para ser queimada no mesmo dia já que era vizinha da nossa. Enquanto isso se ia fazendo outros serviços esporádicos. O Amaro engenheiro já havia feito o levantamento dos lotes, nós já tínhamos feita a casa provisória de pau-a-pique coberta de sapé. A mina de onde tirávamos água para a despesa da casa já estava prontinha dando água. Eram onze horas mais ou menos, quando não, meu pai olhou para o lado da estrada que passava na cabeceira do sítio e exclamou desanimado: Olha lá um fogo, e é na derrubada! Neste instante todo mundo já mudou de atitude; uns foram verificar os aceres, outros foram ajudar a mãe jogar água em cima da casa para defender a cobertura da casa que era de sapé e os vizinhos ao ver a fumaça subindo em razão da voracidade do fogo também já sabiam o quê fazer. Meu pai como velho guerreiro também conhecia alguns truques e então correu em volta da derrubada pondo fogo de encontro para amenizar o calor e abrandar as violentas chamas. Enquanto isso a garotada se divertia com o espetáculo que o fogo produzia: Bichos saíam correndo desesperados sem rumo para se salvarem e, os gaviões faziam festa apanhando insetos que subiam na fumaça, em poucos minutos o céu cobriu-se de fumaça. Mas o perigo felizmente durou pouco, o fogo de defesa combateu eficazmente evitando assim um desastre ecológico. O vento lhe era favorável e ele então rompeu a derrubada e o fogo vilão foi debelado com sua fúria. E o resultado foi carvão e cinza e brasas durante o resto da tarde. À noite parecia uma cidade iluminada, era tanto toco que continuou queimando que parecia não acabar mais. Até hoje ninguém sabe a origem daquele fogo, mas, interessante foi a impressão que ele causou; ainda ouço os estouros das taquaras ardendo nas chamas e até parece que vejo os gaviões planando no céu em busca de um bichinho.